Entenda os principais aspectos e as grandes diferenças entre essas metodologias
Uma das primeiras decisões que os gestores de projetos de desenvolvimento de software precisam tomar é sobre a escolha da metodologia a ser adotada, onde temos o Modelo Cascata ou o Modelo Ágil. Essa decisão desempenha um papel crucial, pois ao definir como a produção de uma aplicação de software será gerenciada, assim também será levado em consideração quais recursos serão necessários e outros aspectos fundamentais durante esse processo.
O modelo Cascata e suas particularidades
O modelo de desenvolvimento de software Cascata (ou waterfall) surgiu em meados dos anos 70, como uma forma de otimizar a gestão desse tipo de projeto. Baseia-se em uma hierarquia rígida de etapas sequenciais com um controle fixo das funções. Por ser fincado emplanejamento e em extensa documentação, o modelo Cascata foi proposto como uma maneira de melhorar a previsibilidade dos projetos gerando uma maior capacidade preditiva sobre tempo e orçamento do projeto.
O modelo Cascata é composto pelas seguintes etapas:
Etapa de levantamento de requisitos: são realizadas entrevistas com o cliente para compreender a proposta do projeto. Esses requisitos são então transformados em funcionalidades, definindo o escopo do projeto;
Etapa de planejamento: envolve decisões-chave, como: a escolha de linguagens de programação e a alocação de orçamento;
Etapa de modelagem: são definidos aspectos gerais, como: plataformas e estrutura de dados do sistema;
Etapa de desenvolvimento: dedicada à implementação do código com a equipe construindo as funcionalidades do projeto. A eficácia dessa fase depende das etapas anteriores, especialmente de um levantamento de requisitos robusto;
Etapa de testes: visa garantir a consistência do sistema, submetendo-o a diversas combinações para identificar possíveis erros. A condução dos testes é orientada pelos requisitos e documentos do projeto;
Etapa de implantação: o sistema é entregue ao ambiente de uso, incluindo a distribuição do software e as manutenções subsequentes. É primordial intensificar o suporte ao cliente nesse momento para facilitar a adaptação ao novo software.
Aspectos Positivos do Modelo Cascata
No modelo Cascata, a obtenção de um consenso inicial entre desenvolvedores e clientes sobre o escopo do projeto oferece benefícios significativos, isso simplifica o planejamento e o design, facilitando a medição do progresso, uma vez que o escopo completo do trabalho é conhecido antecipadamente.
Durante o desenvolvimento, a flexibilidade permite que diversos membros da equipe estejam envolvidos em diferentes tarefas, otimizando a eficiência. Por exemplo, analistas de negócios podem documentar requisitos, enquanto desenvolvedores trabalham em outros projetos, e testadores podem preparar scripts durante a codificação.
Outra vantagem é a redução da necessidade constante da presença do cliente, exceto em momentos cruciais, como: revisões e aprovações. Essa abordagem é particularmente adequada para projetos que envolvem a criação de vários componentes de software, às vezes em paralelo, para integração com sistemas externos.
Além disso, o modelo Cascata permite que o software seja projetado de forma abrangente desde o início do ciclo de vida do desenvolvimento, o que resulta em um design mais aprimorado, minimizando a probabilidade do "efeito fragmentado", um fenômeno que pode surgir quando trechos de código são adicionados ao aplicativo sem integração adequada.
Aspectos Negativos do Modelo Cascata
Apesar dos benefícios, o modelo Cascata enfrenta desafios notáveis, especialmente na eficácia dos requisitos. A coleta e documentação significativa desses requisitos para os clientes muitas das vezes se revelam a parte mais complexa do desenvolvimento do software.
Os clientes podem se sentir sobrecarregados por detalhes fundamentais no Modelo Cascata, pois podem parecer excessivos. A capacidade limitada de visualizar um aplicativo a partir de uma documentação de requisitos é uma barreira adicional e embora wireframes (diagrama visual que esboça a estrutura de uma tela de um site ou de aplicativo) e mockups (modelo em escala ou de tamanho real de um projeto ou dispositivo, usado para ensino, demonstração e avaliação de design) ajudem nessa visualização, muitos usuários finais ainda enfrentam dificuldades para integrar esses elementos com requisitos escritos.
Outra desvantagem potencial é a insatisfação do cliente com o software entregue. Como o produto é baseado em requisitos documentados, o cliente muitas vezes não visualiza completamente o resultado até que esteja quase concluído. Isso torna mudanças tardias difíceis e onerosas para serem realizadas. Essas questões ressaltam a importância de abordagens mais flexíveis, como o modelo Ágil, para lidar com a dinâmica e a evolução contínua durante o desenvolvimento.
O modelo Ágil e suas particularidades
A Metodologia Ágil surgiu em 2011, como uma resposta à rigidez dos métodos tradicionais de desenvolvimento, marcando a criação do Manifesto Ágil, que delineia seus princípios fundamentais.
Os quatro valores centrais do Manifesto Ágil:
1. Indivíduos e interações acima de procedimentos e ferramentas;
2. Funcionamento do software acima da documentação;
3. Colaboração com o cliente acima de negociação e contrato;
4. Capacidade de resposta a mudanças acima de um plano pré-estabelecido.
Esses valores refletem a ênfase na entrega de um produto de qualidade e na criação de uma excelente experiência do usuário, mesmo que isso envolva ajustes contínuos de processos e planos.
Além dos valores, os fundadores estabeleceram 12 princípios essenciais, incluindo a satisfação do cliente, aceitação de mudanças de requisitos, entregas frequentes de software funcional, colaboração diária entre profissionais de negócios e desenvolvedores, e a promoção de ambientes sustentáveis e auto-organizáveis.
Esses princípios, fundamentados na flexibilidade, colaboração e adaptabilidade, são a espinha dorsal da Metodologia Ágil, impulsionando equipes a criarem produtos de alta qualidade de maneira mais eficiente e responsiva.
As 8 principais metodologias ágeis:
1. Scrum
• Foco: Gestão de projetos.
• PrincipaisCaracterísticas: Time-boxing (sprints), papéis definidos (Product Owner, Scrum Master, Time de Desenvolvimento) e reuniões regulares (Daily Standup, Sprint Review, Sprint Planning, Sprint Retrospective).
2. Kanban
• Foco: Fluxo contínuo de trabalho.
• PrincipaisCaracterísticas: Visualização do trabalho em um quadro, limites de trabalho em progresso (WIP), otimização do fluxo de trabalho e adaptação contínua.
3. eXtreme Programming (XP)
• Foco: Desenvolvimento de software.
• Principais Características: Programação em pares, desenvolvimento orientado a testes (TDD), integração contínua, releases frequentes e comunicação constante entre os desenvolvedores e clientes.
4. Lean
• Foco: Eliminação de desperdícios.
• PrincipaisCaracterísticas: Identificação e eliminação de atividades que não agregam valor, foco na eficiência, minimização deestoques e melhoria contínua.
5. Dynamic SystemsDevelopment Methodology (DSDM)
• Foco: Desenvolvimento rápido e entrega iterativa.
• Principais Características: Abordagem iterativa e incremental, colaboração intensiva com os stake holders, priorização de funcionalidades essenciais e entrega rápida.
6. FeatureDriven Development (FDD)
• Foco: Desenvolvimento orientado a funcionalidades.
• Principais Características: Identificação e modelagem de funcionalidades, desenvolvimento iterativo, inspeção frequente e ênfase na qualidade do software.
7. AdaptiveSoftware Development (ASD)
• Foco: Adaptação contínua a mudanças.
• Principais Características: Colaboração extensiva, entrega incremental, ajustes contínuos de acordo com as mudanças nos requisitos e comunicação frequente.
8. ScaledAgile Framework (SAFe)
• Foco: Escalabilidade de práticas ágeis para grandes organizações.
• Principais Características: Estrutura hierárquica, portfólios ágeis, times ágeis, coordenação entre diferentes níveis de planejamento e implementação em larga escala.
Os Aspectos Positivos do Modelo Ágil
No modelo Ágil, o cliente desfruta de oportunidades frequentes e antecipadas para visualizar o progresso do trabalho e solicitar mudanças ao longo do projeto. Essa abordagem proporciona ao cliente um forte senso de propriedade, permitindo uma colaboração extensiva e direta com a equipe.
Se a prioridade é acelerar o tempo de comercialização de um aplicativo específico, em vez de liberar um conjunto completo de recursos no lançamento inicial, o método Ágil oferece uma solução eficaz. Ele permite a produção rápida de uma versão básica funcional, que pode ser aprimorada em sucessivas iterações.
Além disso, outra vantagem significativa dessa abordagem é o foco intensificado no usuário. Isso geralmente resulta de uma interação mais frequente e direta com o cliente, garantindo que o desenvolvimento esteja alinhado com as necessidades e expectativas do usuário final.
Os Aspectos Negativos do Modelo Ágil
Embora o modelo Ágil ofereça benefícios significativos, há alguns aspectos importantes a serem ponderados:
Envolvimento do Cliente: O alto grau de envolvimento do cliente, apesar de positivo para o projeto, pode ser desconfortável para clientes que não têm tempo ou interesse para essa participação ativa.
Dedicação da Equipe: O modelo Ágil funciona melhor quando os membros da equipe de desenvolvimento são totalmente dedicados ao projeto. A concentração na entrega frequente pode levar a itens não concluídos dentro do prazo, exigindo sprints adicionais e aumentando os custos.
Localização da Equipe: As relações de trabalho próximas em projetos Ágeis são mais fáceis de gerenciar quando a equipe está no mesmo espaço físico, o que nem sempre é possível. No entanto, existem ferramentas, como: webcams e plataformas de colaboração, que ajudam a superar essa limitação.
Refatoração Iterativa: A natureza iterativa do desenvolvimento ágil pode resultar em refatorações frequentes se o escopo completo do sistema não for considerado na arquitetura inicial e no design. A falta dessa refatoração pode comprometer a qualidade do software, especialmente em implementações de maior escala ou sistemas altamente integrados.
As 7 grandes diferenças entre o Modelo Cascata e oModelo Ágil de desenvolvimento
Ao colocarmos os modelos Cascata e Ágil lado a lado, destacam-se as seguintes diferenças:
1. Estruturado Processo:
• Cascata: Fases distintas no desenvolvimento do software.
• Ágil: Ciclo de vida dividido em sprints.
2. Flexibilidade:
• Cascata: Metodologia estruturada e potencialmente rígida.
• Ágil: Conhecida por sua flexibilidade.
3. Abordagem de Projeto:
• Cascata: Desenvolvimento como um único projeto dividido em fases.
• Ágil: Coleção de iterações focadas na melhoria contínua.
4. Alterações de Requisitos:
• Cascata: Pouco espaço para alterações após o início do desenvolvimento.
• Ágil: Flexibilidade para ajustes nos requisitos mesmo após o planejamento inicial.
5. Ciclo de Desenvolvimento:
• Cascata: Fases concluídas uma vez.
• Ágil: Abordagem iterativa com repetição de fases ao longo do ciclo.
6. Testes e Qualidade:
• Cascata: Fase de teste após a construção.
• Ágil: Testes simultâneos à programação, garantindo qualidade contínua.
7. Participação do Cliente:
• Cascata: Processo interno sem necessidade de participação do cliente.
• Ágil: Envolvimento contínuo do cliente, focando na satisfação e feedbacks ao longo do projeto.
Modelo Cascata ou Modelo Ágil: Quando usar cada um dos modelos?
A escolha entre metodologia Cascata e Ágil depende das características específicas do projeto, das necessidades do cliente e das preferências da equipe. Veja abaixo algumas considerações para ajudar na decisão:
Metodologia Cascata
- Requisitos Estáveis e Claros: Quando os requisitos do projeto estão bem definidos e têm poucas chances de mudar ao longo do tempo, a metodologia Cascata pode ser mais apropriada;
- Escopo Fixo: Projetos com um escopo definido e imutável desde o início podem se adequar à abordagem Cascata, onde o planejamento é realizado antes do início do desenvolvimento;
- Prazos Rígidos e Orçamento Limitado: Se o projeto tem prazos rígidos ou um orçamento limitado, a metodologia Cascata pode oferecer um plano mais claro e linear para a conclusão do projeto;
- Documentação Abrangente: Projetos que exigem uma documentação extens antes do início do desenvolvimento podem se beneficiar da abordagem Cascata, onde cada fase é concluída antes de passar para a próxima.
Metodologia Ágil
- Flexibilidade e Mudanças Constantes: Se o projeto envolve requisitos que podem mudar ou evoluir ao longo do tempo, a metodologia Ágil é mais adequada, pois permite ajustes contínuos durante o desenvolvimento;
- Envolvimento do Cliente: Quando a participação ativa do cliente é crucial para garantir que o produto atenda as suas expectativas, a metodologia Ágil envolve feedback contínuo do cliente ao longo do processo;
- Entrega Incremental: Se a entrega de partes funcionais do produto em intervalos regulares for desejada, a metodologia Ágil permite entregas incrementais em cada iteração;
- Projetos Complexos e Inovadores: Projetos que envolvem complexidade, incerteza ou inovação podem se beneficiar da abordagem iterativa e colaborativa da metodologia Ágil.
Em alguns casos, pode ser apropriado utilizar uma abordagem híbrida, combinando elementos das metodologias Cascata e Ágil, conhecido como "Wagile",para aproveitar os benefícios de ambas, dependendo das necessidades específicas do projeto.
Nem somente Cascata e nem somente Ágil
O gerenciamento de projetos não é um sistema binário, mas parece haver muita pressão para escolher um único modelo e se comprometer totalmente. A ideia de que não existe meio-termo é imprecisa e irrealista, e é por isso que uma metodologia híbrida, ou WAgile, de gerenciamento de projetos pode ser a opção certa. De acordo com o Project Management Institute, do Guia prático ágil, esse tipo de modelo pode combinar abordagens preditivas, iterativas, incrementais e/ou ágeis.
O termo WAgile e suas particularidades
O termo "WAgile" refere-se a uma abordagem híbrida que combina elementos das metodologias Cascata e Ágil. Essa mistura busca aproveitar o melhor de ambos os mundos para atender às necessidades específicas de um projeto. Aqui estão algumas considerações para a implementação do WAgile:
1. Transição Gradual:
• Implementação de práticas selecionadas ao longo do tempo, permitindo uma transição gradual;
• Ideal para equipes que desejam incorporar aspectos ágeis sem uma mudança radical.
2. Integração de Equipes Diversas:
• Pode ser útil quando equipes usando diferentes metodologias colaboram no mesmo projeto;
• Permite a coexistência de abordagens preditivas e adaptativas.
3. Melhoria Contínua:
• Proporciona flexibilidade para melhorar processos ao longo do projeto;
• A equipe pode adotar práticas ágeis para novos elementos do projeto conforme necessário.
4. Atendimento a Regulamentações ou Contratos:
• Adequado para projetos sujeitos a regulamentações específicas ou requisitos contratuais;
• Permite a incorporação de práticas específicas exigidas por regulamentações.
5. Necessidades do Cliente:
• Adaptação às preferências ou requisitos do cliente, permitindo maior flexibilidade na entrega.
6. Mistura de Ciclos de Vida:
• Integração de princípios de ciclos de vida preditivos e adaptativos para otimizar o planejamento e a execução do projeto.
A escolha pela abordagem WAgile pode ser motivada por diversos fatores, incluindo a necessidade de adaptabilidade, a convivência de diferentes metodologias ou a conformidade com requisitos específicos. Essa flexibilidade permite que as equipes personalizem sua abordagem de acordo com as características e desafios únicos de cada projeto.
Os cenários que podem exigir uma abordagem WAgile incluem:
– Projetos que envolvem requisitos regulatórios ou de conformidade rigorosos que exigem uma abordagem mais estruturada e documentada;
– Projetos grandes e complexos onde os estágios iniciais de planejamento e design seguem uma abordagem mais tradicional da Waterfall para garantir a coleta e o design abrangentes de requisitos;
– Ao lidar com clientes que esperam ou estão mais confortáveis com os métodos tradicionais de gerenciamento de projetos, um WAgile poderia satisfazer as obrigações contratuais;
– Organizações que utilizam um ciclo orçamentário anual exigido por relatórios regulatórios, como empresas de capital aberto regidas por padrões contábeis específicos;
– Quando obrigações contratuais ou expectativas de liderança exigem adesão estrita ao escopo, orçamento e cronogramas;
– Quando não for possível mudar diretamente para uma abordagem ágil, o WAgile pode fornecer uma ponte ou um trampolim para a transição futura.
Aspectos Positivos
- Cada projeto otimizado para o sucesso;
- Cada processo avaliado para adequação;
- Metodologia personalizada, “à la carte”.
Aspectos Negativos
- Requer experiência em cascata e ágil;
- Grande número de combinações possíveis;
- Dificuldade de repetir o modelo usado.
Conclusão
Posto que a documentação acadêmica sobre metodologias de gerenciamento de projetos sirva como um guia que constitui a base da fórmula do sucesso, essas fórmulas não podem explicar as qualidades que tornam cada equipe e cada projeto únicos. Todavia, pode aconselhar sobre as melhores práticas, fornecer modelos e desenvolver hábitos produtivos, mas em última análise, devem ser as necessidades do projeto que determinam qual será a metodologia utilizada, se Cascata (Waterfall), Ágil (Agile) ou a combinação entre elas, Wagile, para que assim a abordagem e todos os processos sejam efetuados da maneira correta e funcione de forma eficaz.
O gerenciamento de projetos é como uma viagem, há um destino em mente e a metodologia que você escolher determinará o caminho que você seguirá, bem como as paradas que você fará ao longo do caminho. O software certo desempenha um papel importante em sua jornada, e usar uma ferramenta como guia pode ajudá-lo a ter uma ótima viagem! Em última análise, descobrimos que seguir uma metodologia obstinadamente pode significar que você não está seguindo o caminho mais eficiente. Sendo assim, deixo aqui uma reflexão para os leitores: Se o processo de adaptação de um projeto é considerado uma prática recomendada, por que o modelo e a metodologia não são incluídos nessa personalização?